terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Resenha - A TV sob controle - Laurindo Lalo Leal Filho



Sabe aquela famosa sensação de "o mundo acabou" depois que terminamos um livro? Pois é, senti isso novamente, como há muito tempo eu não sentia. E não foi com um romance. Não foi com um livro que me acabei de chorar com a morte do personagem principal. Foi com um livro de artigos jornalísticos. Talvez eu nunca tenha sentido algo assim por outro livro desse tema. Afinal não é um livro escrito para que nos sintamos assim. Tanto que terminei o livro faz uma semana e somente agora consegui fazer uma resenha.

"Uma coisa é uma audiência inteligente sendo insultada. Outra coisa é uma audiência que não sabe que está sendo insultada." (Citação do primeiro diretor geral da BBC, John Reith, na década de 20).

A TV sob controle: A resposta da sociedade ao poder da televisão, de Laurindo Lalo Leal Filho, lançado pela editora Summus é uma reunião de vários artigos publicados entre 1999 e 2005 na revista Educação (com exceção do primeiro e último, que foram publicados na Comunicação e Educação e Carta Capital) sobre a influência da televisão em nossa sociedade. O autor é bem crítico (principalmente à Rede Globo, diga-se de passagem) quanto a programação e às leis adotadas por um Governo desinteressado na cultura e educação.

"Ao telespectador não é dado o direito de refletir, raciocinar e elaborar a própria opinião. Tudo já vem pronto, com o nítido objetivo de reforçar o conservadorismo arraigado em amplas camadas da população. A televisão rouba, dessa forma, o direito à reflexão e a transformação do próprio indivíduo e da sociedade" (p. 114).

É bem interessante também a quantidade de livros, teses e programas que o autor cita no decorrer do livro. São tantos livros que tratam desse tema, e que infelizmente (claro) não são lidos pela maioria das pessoas (mais lidos pelos cursos acadêmicos voltados à comunicação em massa, como Jornalismo ou Rádio e TV). Cita por exemplo um programa que trata da literatura infantil, Teatro da Juventude, que era exibido na extinta TV Tupi. Júlio Gouveia, o apresentador do programa utilizava um livro para contar histórias, como num teleteatro. Fala também de outros programas de qualidade, como Provocações (TV Cultura) e Rockgol (MTV). Para criticar, utiliza os programas Linha Direta, Fantástico e Programa do Gugu, como programas com alvo fácil em audiência: programas que tratam de violência crua, entretenimento barato e baixaria, do jeito que a maioria do povo gosta.

"A tevê escancarou as janelas nos programas de auditório, atiçando o que de mais perverso existe no ser humano: o prazer de se deliciar com a desgraça alheia." (p. 49)

Recentemente está circulando nas redes uma montagem com um programa de 1988 onde Sílvio Santos critica a reportagem que poderia ser feita no Brasil. Ele diz que na concessionária dele o jornalista, o repórter não poderá ter opiniões próprias quanto às notícias dadas em rede nacional. Tudo o que ele ordenar deverá aparecer na telinha. A montagem é com Rachel Sheherazade, onde ela fala (fala não, arrebenta em dar sua opinião) sobre o "marginalzinho amarrado ao poste", pedindo encarecidamente ao telespectador que tem dó, que adote um bandido. Pelo que já ouvi das "opiniões de Sheherazade", ela sempre foi bem irônica e sempre manteve uma opinião forte sobre os assuntos cotidianos. Claro que nesse mundão da internet, encontrei uma outra matéria (que infelizmente perdi o link), onde dizem que na verdade, quem mandou Rachel dizer tudo aquilo, foi o próprio Sílvio, que tem medo de colocar a cara a tapa na televisão. O primeiro vídeo está aqui para quem quiser tirar as conclusões.

"A marca do telejornalismo no Brasil é a pasteurização da notícia. As pautas dos telejornais circulam em torno dos mesmos temas." (p. 95)

Depois que terminei de ler o livro fiquei pensando o quão triste deve estar o autor hoje em dia, vendo que muitas de suas utopias (hoje podemos já chamar de utopia) quanto à qualidade da programação da TV brasileira, não mudou em nada. Somente piorou. Claro que temos programas bons na TV aberta. Mas são escassos, e não são comentados. Quando comentados por nós, podemos ser taxados de "cult", sendo que na verdade, apenas gostamos de assistir coisas que consideramos de qualidade. 

"Hoje, quem exerce a censura são os concessionários dos serviços públicos de televisão e seus prepostos colocados em cargos de direção." (p. 19)


Porém, uma boa notícia que chegou no último dia do mês de janeiro, e é algo para se alegrar muito: numa pesquisa encomendada pela BBC (canal britânico, que é considerado o melhor do mundo), a TV Cultura ficou em segundo lugar de maior qualidade mundialmente, atrás apenas da BBC One. A Rede Globo ficou em 28ª posição, a TV Brasil em 32º lugar, a Bandeirantes em 35º, a Record em 39º, e o SBT em 40º.

"'Essa o Homer não vai entender', diz Bonner, com convicção, antes de rifar uma reportagem que, segundo ele, o telespectador brasileiro médio não compreenderia." (p. 178)

Vou tentar passar a vocês a lista de livros, teses e documentários que o autor cita no livro ;)


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