quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Mocinhas, devaneios, Gullar e uma crônica


Eu tinha perdido o encanto pela escrita havia seis anos. Bobeira. Sempre gostei de escrever. Sempre achei mais fácil transmitir meus pensamentos através da escrita. Sempre me desculpava com meus pais através de cartas.

Quero sim, voltar a escrever. Quero pôr de volta todos os pensamentos atormentantes no papel. Ou na tela do computador. Acho mais fácil no papel. Posso riscar, e se achar que a ideia vale a pena, roubo o riscado e construo outro texto em cima.

Para conseguir inspiração para escrever qualquer coisa, tento ler muito. Vivo ultimamente no meio digital. Mas sou atenta às coisas que passava à minha volta. Nem sempre. Tinha dia que meu pai me chama de desligada. E além de ler, tenho que ver pessoas diferentes. Tenho que estar em contato com situações diferentes. Com situações surreais. Com situações emocionantes.

Gosto de ler blogs. Blogs sobre livros. Resenhas. Opiniões. Conhecer livros e autores novos, mesmo sabendo que em toda minha vida nunca lerei tudo o que desejo.

De vez em quando caio em blogs de menininhas de 12 anos, onde elas, danadinhas de espertas, conseguem livros das editoras "gratuitamente". Gratuitamente é bondade. Porque sabemos que nada na vida é totalmente gratuito. Na verdade, elas vendem suas opiniões, nem sempre sinceras, sobre os livros que ganham. Claro. Centenas de pessoas visitam seus blogs à procura de suas opiniões (falsas). E isso dá um ibope imenso às editoras. Isso é marketing minha gente. Isso faz parte do mundo editorial.

E tem aqueles blogs com vídeos. Ah, os vídeos! "Oi gentem, queria falar sobre esse livro super fofo mimimi, que chegou na minha caixinha hojeee. Ai, olhem essa capa, que demais! Ela brilha! Olhem esse vampiro que é o personagem! Brilha mais que a capa! Aaaaaiiiii" (claro que esse último comentário elas não podem fazer, se não, adeus parceria com editoras). Sim. Irritante para quem lê, e pior para quem assiste.

Aí um belo dia vendo - por acaso - um blog de uma mocinha de 13 anos de idade, achei esse meu sonho de escrever um belo dum devaneio. Mas aqueles fortes, sabe, que dão na gente?! Escrever pra que? Pra quem? Escrever um livro, creio que nunca irei. Tem tanta coisa boa por aí, e eu não tenho criatividade para botar meus pensamentos no papel sem que estejam aleatórios, ou sem que eu troque de personagem pelo menos uma vez no texto todo. Ou até mesmo a pessoa. Hora eu, hora ela. Hora tu, hora eles. Nem isso eu tenho noção. Pra que, Deus meu, escrever? Só pra desabafar? Olha o mico! Algum dia isso pode cair nas mãos de pessoas erradas e isso vai acabar tirando meu sossego (ia escrever 'seu sossego', mas corrigi a tempo).

E mesmo que conseguisse escrever um livro: seria o que? Romance? Não. Não consigo escrever tanto numa história só. Se já me perco em pequenas crônicas, em um romance, o boyzinho galãzinho iria terminar de mãos dadas com a galinha do tio da namorada, que tinha uma fazenda de bois, lá naquele lugar frio, como que chama mesmo? Antártida. Sim. Seria daí pra pior.

Crônica?! Quem sabe. Conto? Uma possibilidade. Infantil? Já tentei. Mas morro de vergonha de tamanha infantilidade. Isso não foi um trocadilho. Realmente ficou muito infantil. Mas tão infantil que até agora está lá encaixotado. Ninguém quis. Muito menos eu. Policial? Jamé! Best-seller? Impossível.

E quem gosta de ler contos numa era em que todos os leitores estão voltados para o romance? Sim, concordo com você. LFVeríssimo. Óbvio. Ele é o cara. Ele é filho do Érico. Ele é famoso. Ele deu o duro (? deve ter dado). Ele é talentoso. Mesmo que alguém gostasse do que escrevo. Essas pessoas seriam daquelas lá de cima? As mocinhas pululantes? Ou seriam as tiazinhas? Ou os avozinhos?

Estou pensando aqui. Comecei esse texto com o intuito de falar das menininhas e já estou em outros assuntos aleatórios. Pensando que se eu escrevesse um livro, eu jamais gostaria de dar autógrafos a elas. Não que fosse ser um livro famoso. Mas sim, já passei por isso, de dar autógrafos, de fazer dedicatórias - é uma outra história. Fiquei imaginando elas pulando praticamente no meu colo. "Ah, que livro fofo! Ah, que capa bonita! Ah, adorei o que você escreveu!". Meu Deus. Não sou pra isso.

Se eu fosse escritora. Se eu fosse escritora famosa, melhor dizendo. Eu continuaria tímida. Tímida ao ponto da ignorância. Tímida ao ponto de fugir correndo. Tímida ao ponto de dar respostas rápidas, certeiras e grossas, tipo o Gullar no Festival da Mantiqueira, de 2010. Amei a atitude desse homem. Não o conheço a fundo. Não sei se ele é uma pessoa tímida (para ter escrito Poema Sujo, não deve ser). Não sei se ele é sempre assim, ou se estava num mal dia. Mas sim. Gostei de sua atitude. Pra mim, ele não foi grosso.

Não encontrei o trecho que quero citar no Youtube. Mas digo com minhas palavras. E não estou exagerando. Acabada a entrevista, abriram para perguntas do público. Uma mocinha pomposa, dizendo ser professora de Arte Moderna disse que leu em uma entrevista que ele deu a alguma revista, que ele achava Arte moderna um "absurdo" (ou palavra parecida), e perguntava o que ele tinha a dizer sobre isso. Sim. Estávamos prestes a presenciar um pedido de meras desculpas do escritor pop (que na época não era tão pop assim). Ou presenciar uma cena de confronto. Ele foi simples. Disse que sim, achava ridícula a Arte Moderna, que não entendia porque um penico fora de uma exposição era um mero penico; e um penico dentro de uma exposição era tratado como um objeto de arte.

Aplausos ao poeta. A moça ficou sem graça, claro. Não acho que foi questão de esculhambar. Mas foi sincero. Ele não foi em momento algum simpático somente para agradar a ninguém. Ele deu sua opinião. Ele foi o que a maioria das pessoas hoje em dia não são. Ele daria uma lição de moral fácil, fácil nessas mocinhas que vendem suas falsas opiniões por livros gratuitos e chatinhos. Ele foi digno.

Aí voltou toda minha vontade de escrever novamente. Para ser gente grande como o Gullar.

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